Eduardo Mascarenhas, citado por Saffioti em O poder do macho, 1985.

"Desconfio que, se acaso existe alguma inclinação heterossexual de nascença, ela é tão fraca que pode perfeitamente se apagar, conforme as experiências de cada um. Tanto é assim que a sociedade constitui uma das maiores companhas publicitárias de que se tem notícia contra a homossexualidade. Se computássemos o quanto de esforço a humanidade vem despendendo para demonstrar que ser heterossexual é que é bom, enquanto ser homossexual não é, e transformássemos essa venda de imagem, no último milênio, em dólares, a quantia daria folgadamente para pagar dez vezes a dívida externa do Brasil e ainda sobraria dinheiro para fazermos desse país uma das maiores superpotências de que se tem notícia!

Ora, se a heterossexualidade fosse tão natural e determinada pelo instinto assim, alguém se daria ao trabalho de enaltecê-la tanto e de combater tanto o seu oposto?

A questão da moral é sempre a mesma: ela só se importa em enaltecer o que não é ponto pacífico e só trata de condenar o que representa algum grau de tentação. (...)

Logo, o próprio empenho da moral e do preconceito em louvar a heterossexualidade e execrar a homossexualidade demonstra que a natureza humana não é tão heterossexual assim. Diga-me o que você condena, que lhe direi o que você teme desejar..." 


Eduardo Mascarenhas, citado por Saffioti em O poder do macho, 1985.

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